Coimbra

De Salamanca, Espanha

O cavalheiro saberá me dizer se aquele avião está indo na direção da cidade do Porto, perguntou-me o senhor em óculos de grossas lentes e sobrancelhas mais ainda, que se acercou a mim quando eu gastava uns minutos contemplando algum ponto aleatório no horizonte.

Porto? – devolvi a pergunta. E por um segundo calculei a direção do rastro branco que se inclinava no céu azul. Concluí que não, senhor, este avião não vai tão a norte, parece-me mais que segue a rota para Coimbra.

O homem nada respondeu; ao ouvir a palavra “Coimbra”, levou a mão ao peito e soltou um gemido contrito, saudoso: ai, Coimbra, murmurou.

Rodolfo Badajoz, chamava-se, ou então o chamo eu, porque o nome bem poderia ser outro. Contrariando as indicações científicas, acho que a memória é como a sabedoria, afina-se com a idade, e por esse critério, tanto em uma coisa como em outra, o senhor Rodolfo levava franca vantagem sobre mim.

Não só teria a capacidade de lembrar meu nome, como talvez pudesse até ler pensamentos. Pois antes mesmo de que eu abrisse minha boca, justificou sua pergunta: “perdão, o senhor é português, não? Mas fala português...”, ensaiou.

Encarei o homem de boina e pantufas que me estendia sua mão: lançava-me também um amistoso sorriso.

01.07.06