Olhos vidrados e paisagem anglo-saxônica

25/05/2006

A cerca é de madeira, frágil demais para proteger qualquer coisa. Não que haja o que ser protegido, apenas um jardim que chamemos de selvagem, gosto de imaginar que tenho um jardim selvagem no quintal de casa.

Da janela, a cerca de madeira faz uma linha ao longo do, digamos, jardim selvagem, mas nunca o contorna: segue o relevo que se inclina e leva a uma clareira alguns metros abaixo de nível da casa, onde há um trilho pelo qual muito raramente passa um trem.

Prometi a mim mesmo escrever qualquer coisa sobre esta cerca, mas que diabos, que escrever de uma cerca que termina logo ali, a quinze ou vinte metros da minha janela?

De onde estou, vejo a cerca de madeira afundar na colina e este é meu horizonte. Precário como as ripas velhas, mas pelo menos me lembra que a terra é redonda; com boa vontade dá para imaginar que está é uma praia e em alto-mar uma caravela faz a curva e afunda no oceano.

(Às 0h48, a Rádio 4 exibe há vinte anos para os marinheiros britânicos o boletim Shipping Forecast. Uma voz com o mais perfeito British accent da Universidade de Oxford me informa que o vento Pharoah sopra a quatro, ocasionalmente seis nós no canal da Mancha.)