COMENTÁRIO DE AUTOR (1994)

1994

Vejo o artista escondido sob os mais diversos tipos humanos
Sob o médico, o advogado, o técnico em edificações, o instrutor de microinformática
o funcionário público da Secretaria do Bem-estar Social

Vejo-o nos olhos dos que confidenciam, absortos:
- Ah! como eu queria ter sido artista...
E também nos que desafiam, irônicos:
- E viver de quê?
Como se bastasse fantasiar-se de médico, de advogado
de técnico em edificações...

Olho em volta e me questiono:
- De que adiantará sonhar?
Se me limito a memorizar e esquecer as frases-feitas da tabela periódica
e tudo o que vejo se refere à prova do sábado que vem, à argüição de amanhã à tarde,
aos oitenta pontos na prova de redação do vestibular da Universidade Federal?

Ora, pois sim.
Proponho-me tão somente a ser um artista
Inquieto
Sem saber se o mundo aceitará ou não a minha arte
Mas o mundo a aceitará, sim
Porque o que o mundo queria mesmo
era ser artista