INFÂNCIA (Brasileiro)

Ãn... ãn-rãn... voismicê? É voismicê? Bom que voismicê chegou... é voismicê, num é? Ãn-rãn. Num é? Ãn... tava não, voismicê. Tava aqui pensando na vida. Nas coisa. Sozim sozim. Mais deus, né? Não, meu fi. Se achegue. Não, já lhe disse. Sozim. Mais deus. Ãn-rãn. Na vida. No Trairi, meu fi. Na estrada de piçarra. As Flexêra. Era um lado a lagoa do Mundaú, num sabe? O outro era o num-sei-quê. Ãn-rãn. Não, num sabia. Nunca sube. Pois sim. Era dum lado o Mundaú, dotro era o capeta-que-sabe. Naqueles tempo só tinha era o Mundaú e o sol que era um fogo. Um poeral danado. Os carro nas estrada. Ãn-rãn. E as duna. Branquim, branquim. A gente só no verdim, só na graminha. Ãn-rãn. Na volta, atrás das bica, o sal nos calção. Pois sim. Em casa era o banho de bica, a Cesarina já na macarronada. Ãn-rãn. O franguim. Suco de caju. Graviola. Tapioca de coco. Pois sim. E mantega da terra. E café preto. Era. Dindin. De castanha. De toddy. De coco. Ãn-rãn. E o compadrio só entrando. Ê conversa fiada! Nóis, só na amarelinha, na bandeira, no remanim-remanim. Menino-pega-menina. Ali mêmo na praça. No jardim detrás da casa. Era sirigüela, era goiaba, era ata. Genipapo. Pois sim. O cheiro, voismicê. Ãn-rãn. Pois sim. De lá pra cá, só o chêro da minha cabritinha, voismicê. O resto, tudo aquele negócio, o jardim. As sirigüela. O fógos. Só carnaval. Pois sim. Semana Santa. Ãn-rãn. Era roubar o Judas alheio e ensebá as canela na lagoa. No matagal. Ô suêra. E o carrapicho. E ainda nós cum medo da igreja. Do cemitério. Voismicê. Num sabe? Pois sim. Os ovido atento nos lobisômi! Ãn-rãn, ririri. Lua cheia. Lobisômi, voismicê. Tinha. Pois sim. Voismicê que num sabe. No Trairi. E tamém mula sem cabeça. Ãn-rãn. E alma penada. E marmota, voismicê sabe a marmota? Pois sim. Horrô de cavalêro! Os jagunço na encruziada escura. Voltava não. Batia bem mais não. Pois sim. Ãn-rãn. Debaixo da igreja, era a traíra. Gigante. A gente dizia: “Traíra, Trairí, cresce!”. Pois sim. O monstrengo. Aí crescia. Crescia. Dizia o povo. Até sempre. Gigantão assim. E ficando raivosa. Aí expludia. Zangava. Se levantava. Pois sim. A cidade e tudo. Sobrava nada, nadinha. Ãn-rãn. Diz aí o povo. Aí ficava só o vermelho. Só a piçarra quente. Só o sertãozão. A fumaça. Ãn-rãn. E o rio. Magrim magrim. Fraquim. Pois sim. Um riozim assim. Diga voismicê. Ãn-rãn. Tinha tamém. Isso tamém. Ãn-rãn. Mas precisava de uns quinze minutos pra falar pra fora. Uns quinze, por baixo. A Maria. Pois sim. O posto. A Maria era uns cabim vermei e preto, cruzava assim e dava uns quinze minuto, pronto, falava pra fora. Pra cidade. Pois sim. Tinha. Pois sim. Voismicê disse quem? Voismicê mi disculpa, veím, veím. Quem? Pois sim, as matutinha! Ãn-rãn. Ãn-rãn. Só o forró. Forró de pé de serra mêmo. E nas praia. E na pracinha da frente. Ãn-rãn. Era o de-um-até-dez, voismicê. Ôxe, como se fosse hoje. A Lurdinha. Módi pegá os menino Ãn-rãn. Eu? Pois sim. Eu ia também. Corria. Corria, num sabe? Mas era doido pra sê pegado. Ãn-rãn. A Lurdinha. Era a Lurdinha. Mas no quengo mêmo era uma Tezinha. Era. Pois sim. Ãn-rãn. É voismicê? Voismicê tá bem? Não, chegue, chegue. Ãn-rãn. Tezinha era no quengo. Mais Neneca, mais Deinha. Era as trêis. Ãn-rãn. Ãn. Mais voismicê sabe, num sabe. Pois sim. No canavial, mêmo. Era ali mêmo. Mais Neneca. Pois sim. Ririri. Veím veím, mas tudo fresquim, fresquim. Ãn. Ãn-rãn. Mas dê fé, num sabe? O Trairi. Pois sim. Isso era assim. Aí ôtro dia. O Trairi. Módi sentá na mesa. A patroa. Até matuto agora lava mão, num sabe. Módi sentá na mesa. Ãn-rãn. Mais voismicê num viu, num viu. Num viu foi o Trairi descendo, rodupiando, branquim, branquim, lavadim. Na pia, na lôça sanitária... zim-zum-zum-zim-zum. Pois sim. Matuto agora lava mão. O veím, veimzim. Minino. Matutim. Lá rodupiando. Ãn-rãn. Desde esse dia então agora é isso, voismicê. Só assim. Agora é o veim assim assim. Pensativo. Lembrançoso. O Trairi, voismicê. Pois sim. O Trairi.

31/10/2004

Mais: Infância v.1 e Semana Santa (Infância v.3)