A orquídea v.1

18.12.2005

Uma orquídea precipitada floresceu na minha sacada. Bem no meio deste inverno brumoso, e pior, pluviométrico.

Saio a espiá-la enrolado num cobertor felpudo que me faz parecer um urso mal-saído da hibernação, deslizo a porta da sacada e é como se as neves do Kilimanjaro caíssem sobre meu nariz vermelho. Mas não estará muito cedo para esta orquídea florescer?

Faço esta pergunta a uma amiga, que me goza, vai ver o seu mau jeito com as plantas criou uma superplanta, não chamam isso de seleção natural?

Encolho os ombros, o fato é que ela tem razão, nunca fui entendido em plantas. Esta orquídea mesmo é sobrevivente do meu breve e mal-aproveitado esforço no terreno da jardinagem, foi um fiasco minha experiência nesse campo. De lá pra cá cultivo outras flores.

“De asfalto”, eu expliquei certa vez a uma mexicana, enquanto ela repetia: “Flor de asfalto... qué chistoso el portugués.” E absorveu mais um gole seu Gim com abacaxi, em São Paulo ou na Cidade do México, flor de pavimiento na frieza das quatro horas da manhã.


“Le di a mi guajira una flor
flor que di en prueba de amor
amor que nunca olvidaré
amor que nació de uma flor”


Mais: A orquídea (v.2), A orquídea selvagem (v.3) e A orquídea selvagem.